O verão de 2009 que se avizinha trará mais uma vez os impactos do fenômeno climático El Niño tornando ainda mais difícil a vida para os agricultores familiares da região semi-árida nordestina, principalmente para aqueles que ainda não estão organizados e que lhes foi negado a oportunidade de ter políticas públicas de apoio e incentivo para terem uma convivência produtiva com o sertão, sem a dependência da cesta básica e do carro pipa.
Apesar das adversidades, os apicultores da região de Remanso e Campo Alegre de Lurdes, divisa da Bahia com o Piauí, produzirão mais de 120 toneladas de mel de abelha, que serão vendidas por cerca de R$,3,80 o quilo. Na região de Canudos, Uauá e Curaçá, sertão da Bahia, toneladas de umbu serão transformadas em doces, sucos e geléias e serão incluídos no PAA (o Programa de Aquisição de Alimentos que é uma das ações do Fome Zero) ou vendidos para Juazeiro, Feira de Santana e Salvador. Em Valente, plena caatinga baiana pulsa uma indústria de transformação da fibra do sisal, com mais de 3.500 empregos diretos e indiretos que é responsável pela exportação anual de dezenas de toneladas em tapetes e outros produtos artesanais para a Europa e Estados Unidos. Na vizinha cidade de Glória, 20.000 toneladas de frutas serão comercializadas para as principais capitais nordestinas e até para o sul maravilha.
Parafraseando Euclides da Cunha “o sertanejo é antes de tudo um forte”, e estes exemplos são fruto mais da iniciativa e do esforço local do que resultado de políticas públicas de apoio e fomento.
Segundo dados da EMBRAPA, o potencial que a região semi-árida oferece, com a exploração racional, pura ou associada, dos recursos do bioma caatinga é mais que suficiente para assegurar o resgate social e econômico de suas populações. Nos 38 milhões de hectares (40% do semi-árido) mais indicados para a atividade da caprinovinocultura, a região teria condições de produzir anualmente mais de 200 mil toneladas de carne e quase 20 milhões de peles, sem agredir o ambiente, gerando uma renda estimada em 65 milhões de dólares anuais em matérias-primas, sem qualquer valor agregado. É mais renda do que as exportações nacionais de manga e praticamente o dobro da de uva-de-mesa registradas em 2002. A apicultura como atividade geradora de renda, ocupadora de mão-de-obra e não degradante, já que não desmata a caatinga, constitui uma outra grande alternativa. A Bahia é o segundo maior produtor do Nordeste, com mais de 200 mil colméias instaladas e produção anual superior a 4 mil toneladas de mel.
A exemplo das carnes e as peles do caprino e do ovino, o leite e os queijos da cabra, as frutas de mesa, os produtos apícolas, existe uma infinidade de outros produtos com potencial de ocupar um espaço no mercado e de proporcionar aos seus produtores uma vida digna e sustentável. Entre eles, podem ser citadas as frutas nativas (umbu, caju, maracujá do mato), as meliponídeas (abelhas sem ferrão: uruçu, mandaçaia), as aves caipiras (galinha, guiné), a criação, com autorização do IBAMA, de animais silvestres (ema, cotia, caititu, preá, tatu), o extrativismo racional de espécies nativas para madeira, energia e artesanato (angico, aroeira, baraúna, sabiá, imburana), sem esquecer o enorme potencial em ecoturismo que oferece o bioma para exploração do lazer e recreação.
As diretrizes para o sucesso de um programa de desenvolvimento com esse enfoque abrangeriam, além da preservação e exploração racional do ecossistema, a equidade social na distribuição dos benefícios gerados, o fortalecimento das associações de produtores, a estruturação de redes locais de apoio técnico e tecnológico, linhas de crédito específicas e adequadas à capacidade remuneratória de capital dessas atividades, transparência e simetria nas relações entre produtores e demais segmentos dos arranjos produtivos existentes ou dos que venham a se formar.
As verdadeiras soluções estão aí, bem a nossa frente. Só precisamos aprender a enxergá-las.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário